quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Colocando flores no caminho: Um ano de Mãe Coruja Pernambucana.

Família de Janimeire Venturosa Bacurau, no Sertão do Araripe: uma das primeiras a ser acolhidas pelo Mãe Coruja.
Por Samarone Lima, do grupo ALMA (Amor, Literatura, Movimento e Arte)

Há pouco mais de um ano (04 de outubro, dia de São Francisco), estávamos celebrando, com uma grande festa, em Ouricuri, o lançamento do Programa Mãe Coruja Pernambucana. Lembro que parte do nosso grupo da Secretaria Estadual de Saúde (SES) viajou antes para o Sertão, para organizar tudo. Iramarai, Naná e Boy fizeram de tudo para que tudo corresse bem. Os 11 municípios da região da IX Geres foram mobilizados, foram montadas barracas, e na praça principal da cidade, vários profissionais da Secretaria Estadual fizeram um ninho, simbolizando o nascimento do Programa.

Foi uma bela festa. Gildázio Moura, da Saúde do Trabalhador, se tornou o locutor improvisado. Bandas municipais, grupos de xaxado, de idosos, dançarinos de várias idades, se apresentaram, durante todo o dia. À tarde, a festa aumentou, com a chegada do governador Eduardo Campos e sua comitiva.

Nascia um Programa cheio de desafios, e logo em seguida começaríamos processos coletivo dos mais emocionantes – os encontros com os Agentes Comunitários de Saúde (ACS). O objetivo era sensibilizá-los para o Programa. Começava a nascer, nesses eventos cheios de calor humano, o “corujismo” - sentimento de fazer parte de um programa que iria unir esforços para melhorar as condições de vida das gestantes pernambucanas e seus filhos.

Foram muitas viagens, atravessando o estado, geralmente sob o comando do motorisfa Francisco Correia, ou de Belám. Lembro do primeiro encontro, em Ouricuri. Tânya,do Chapéu de Palha, e Ana Maria, do Monitoramento, se encarregavam da “Árvore da Vida”, a atividade de integração. Iramarai Vilela, que depois se transformou no fotógrafo oficial do Programa, convidou Frei Aluízio Fragoso para fazer a sensibilização inicial. Foi surpreendente e belo ver dezenas, às vezes mais de uma centena de profissionais de saúde cantando “não quero lhe falar meu grande amor/Das coisas que aprendi nos livros”, uma bela canção de Belchior, puxada por um frade franciscano.

Uma das atrações de cada encontro, era a exibição do filme “Vida Maria”, do cearense Márcio Ramos, que mostrava a realidade de muitas famílias do Sertão, as “marias”, que deixam de estudar para trabalhar, e seguiam vidas marcadas. Os debates que se seguiam eram fortes, com pessoas relatando a vivência como ACS, falando de suas vidas, e o que pretendiam fazer para mudar certas realidades.

“Não sou mais uma Maria, porque já fui. Se eu fosse, estaria igual àquela Maria. Teve uma cena que me chamou a atenção aquele milho que ela jogou no pilão. Era milho, e eu já fiz muito, para dar comida ao meu irmão. Essas marias não têm alternativas. Quando a mãe puxou a filha para trabalhar, só tinha aquela fonte de água. Não tinha um pé de planta, um boi, um bode, uma galinha, era uma alternativa. Não sou mais uma Maria, sou eu”, contou a Maria do Socorro, ACS de Ipubi, num encontro em fevereiro.

Ainda sobre o filme, o depoimento de Ailton Peixoto, do PSF Cohab, em Trindade, chamava a ateneção:

“Gostaria de pedir perdão a todas as mulheres aqui. Sabem por quê? Por que os maiores vilões da história somos nós, os homens. O único momento no filme em que apareceu um homem, foi para se aproveitar. Graças a Deus, sou dessa família, dos Agentes Comunitários de Saúde. Um dia, os homens não precisarão pedir perdão, mas agradecer por tudo o que fizeram por nós”.

Ana Elizabeth, a Bebeth, falava sobre o Programa, como iria funcionar, os Cantos da Mãe Coruja. Rizete Costa, Ana Paula (IPA), Mariana Suassuna, integrantes das diversas secretarias, mostravam a articulação, os desafios. Carmem Patrícia explicava o funcionamento do programa “Leite para Todos”. Depois, chegaram as camisas do Mãe Coruja, que se tornou nosso uniforme de trabalho. Todos vestiram de verdade a camisa.

Pouco depois, Frei Aluízio compôs uma “Ciranda do Mãe Coruja”, que logo se tornou a canção de abertura e encerramento dos trabalhos. Quantas cirandas dançamos, todos juntos, alimentando a paixão pelo Programa!

Araripina, Exu, Moreiândia, Santa Cruz. Fomos conhecendo os ACS, trabalhadores dedicados, apaixonados pelo trabalho. Pelos meus cálculos, viajamos juntos para o Sertão do Araripe no mínimo umas dez vezes, o que representa mais de 15 mil quilômetros de estrada.

Iramarai, de tão apaixonado pelo Programa, ganhou o apelido de “Coruja”. É comum escutarmos na Secretaria perguntas assim:

“Cadê o Coruja?”.

Outro dia, recebi as fotos dos diversos Cantos da Mãe Coruja. A cada relatório enviado por Natércia, falando sobre a evolução das coisas, as dificuldades, sinto que o Programa vai se fortalecendo.

Nos muitos depoimentos que coletamos, foi possível perceber a expectativa dos envolvidos – que o Programa “saísse do papel”.

Não tenho a menor dúvida que o Mãe Coruja há muito tempo saiu do papel. Vários Cantos da Mãe Coruja já funcionam, os cadastramentos seguem, o cuidado com as gestantes faz parte do cotidiano.


Lembro que em um desses muitos encontros, Bebeth disse o seguinte:

“O caminho é cheio de pedras, mas vamos tirar pedras e colocar flores”.

Sinto que todos os corujas, em diversos níveis, cargos e desafios, estão fazendo isso. Estão colocando mais flores no caminho. Votos de vida longa ao Mãe Coruja Pernambucana.

Um comentário:

  1. Prezada Samarone,

    Relato extremamente interessante e inspirador.
    Parabens pelo exito d programa a toda equipe do programa.

    A Express Diagnostico por Imagem homologou o primeiro Mama Movel (operando dentro de uma Van) no Estado de Pe.

    Acreditamos que o nosso projeto de um Ultra Movel (unidade movel de ultrasonografia) que pode vir a ser o Coruja Movel tem tudo para somar a todas as inciativas ja exectudas, aumentado ainda mais a seguranca das criancas e das maes.

    Voces sao pioneiros e juntos esperamos poder contribuir para evolucao do programa de maneira movel, agil e pontual.

    Cacio Carvalho
    www.mamacenter.com.br
    mamacenter@gmail.com

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