quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O tempo de uma gestação

Por Danièlle de Belli Claudino, do Comitê de Assessoramento do Mãe Coruja Pernambucana


Na foto de Iramarai Vilela, a alegria da assistente social
do Canto da Mãe Coruja de Venturosa, Djane Patrícia de
Oliveira, ao acompanhar uma mamãe e seu filho.




Para todos e todas que fazem e que estão por consolidar esse programa,
Para todas às mulheres pernambucanas,
Para todos os pequenos e pequenas que estão por vir.

As minhas simples e sinceras palavras.



Para começar a falar do Programa Mãe Coruja Pernambucana seria preciso realizar uma viagem dentro da gente que olhasse para trás com um sentimento de esperança e que enxergasse no seu futuro a realização de um sonho coletivo, uma construção democrática, que por ironia da vida, durou uma gestação. Foram nove meses de reuniões, de retiradas de pontos e vírgulas; de dezenas de interrogações; mas, muitas e muitas exclamações.

Estávamos alguns poucos, no início de tudo, ali, diante de algumas fotos e dos relatos das primeiras viagens de Bebeth ao sertão de Pernambuco, conhecendo e reconhecendo um território esquecido por muitos, aqueles que não se indignaram com a fome e com os cemitérios clandestinos dos pequenos e pequenas dessa terra guerreira.

Os indicadores sociais nos apontavam para um caminho de beleza natural de fazer marejar os olhos de quem sempre morou perto do mar. Bem na nossa frente estava a Serra do Araripe, o luar do sertão e o verde esmeralda das águas do velho Chico. Bem na nossa frente também lares de taipa, roupas simples penduradas no varal, uma cisterna e crianças com enxadas na mão. Realidade vivida de quem fazia muito tempo não viajava pelas estradas do nosso estado e que se confrontava com uma realidade ainda mais excludente do que a imaginada. Eram as Vidas Severinas do passado, Vidas Marias do presente.

A decisão estava tomada, era preciso “cuidar da vida do começo” lembro de Renata Campos; cuidar daquelas que geram a vida e de todos aqueles que estão por vir. Isso não poderia fazer parte de um só, isso era parte de um conjunto de atores sociais que cientes do compromisso e da importância da construção de uma política pública que pudesse, em seus objetivos, propor atenção integral às mulheres gestantes, às mamães, às Marias e Anas. Aos Pedros, Carolinas. A todos que mamam e a todas que merecem mamar. A todas que merecem receber seus filhos através de um parto humanizado. Uma política pública focada na reversão da exclusão dos direitos que por anos foram negados. Direitos aos que devem crescer com saúde e oportunidade e aquí tomo a liberdade de citar também Dom Mauro Morelli onde ele nos diz que “ a criança não pode morrer criança”.

No percorrer desse caminho, chegaram outros, segmentos sociais e as secretarias de Saúde, Educação, Agricultura, Assistência Social, Planejamento, Mulher e juventude. Discutindo conceitos, premissas; propondo mudanças, cobrando ações, viajando pelo sertão, realizando reuniões. Visitando os Cantos, realizando capacitação, escutando a voz de quem por anos não era ouvido pelo poder público, pelo governo; os sonhos, os desejos e luta na nossa gente.

Mãe, Mãe Coruja Pernambucana, que lindo nome tem esse programa social que une direito e afeto, que lembra da primeira foto, do álbum do bebê, que se preocupa com a família e com a comunidade onde vive a criança. Mãe Coruja, programa que fomenta o fortalecimento dos laços, que assegura capacitação profissional, que se insere em uma proposta de alfabetização contextualizada com a realidade cultural de gente de rostos marcados. Que fomenta o Leite de Todos para quem também tem leite e combate a desnutrição. Que orienta as famílias para uma alimentação mais simples e nutritiva. Para o aproveitamento da macaxeira, do inhame, mel e banana, que se lembra das coisas que nascem no pequeno quintal. Que fomenta a dignidade de quem não tinha na mão e até não sabia da importância da documentação. Assinar o nome e compreender o que é ser cidadã e o que é ser cidadão. Receber uma lembrança que nada mais é do que uma atitude de cuidado, de zelo, de assistir um sorriso largo de uma mulher. Saber que o seu bebê será agasalhado se ela realizar todos os cuidados para uma gestação saudável.

Giramos em vários graus, olhamos o todo e vamos avançando para um caminho de possibilidades e concretizações de direitos. Um ano de movimentos e de muitos desafios também. Combater a mortalidade infantil e materna em Pernambuco é uma tarefa de todos nós, governos, família a sociedade. Vamos partilhando saberes e compreendendo cada vez mais o sentido da vida e o pulsar de um pequeno coração. Vamos sem perceber, lembrando de gente que ao longo da sua história lutou e deixou lições de sabedoria e sentimento pelo povo pernambucano; lembrando de um homem que deixou marcas e não cansou de caminhar do litoral ao sertão.

Parabéns Mãe Coruja Pernambucana.

2 comentários:

  1. Dani,
    Texto belíssimo, certamente ainda mais belo por vir do coração.
    Beijo carinhoso!
    Alessandra Fam.

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  2. QUE TRABALHO FABULOSO É ESSE MUITO BONITO , TÔ DOIDA PRA COMEÇAR LOGO. Ana GERES II. ESPERO QUE CHEGUE LOGO.

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