segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Um grande desafio

Encontro com profissionais de saúde em Arcoverde
Um dos cemitérios clandestinos na região do Araripe

Por Iramarai Vilela, do Grupo Alma (Amor, Literatura, Movimento e Arte)

Estamos mergulhados numa velocidade e ânsia para conseguir bens de consumo no sentido de melhor satisfazermos as nossas necessidades aqui na terra. É real e justa esta imersão. É real e justo que todos indiscriminadamente se sintam satisfeitos na conquista destes mesmos bens de consumo. É real e justo que cada vez mais nos apropriemos de conhecimentos tecnológicos, no sentido de agilizar a produção destes mesmos bens, pois a cada dia estamos consumindo mais e mais. É real e justo que governantes e organizações garantam estas conquistas. Chamamos a tudo isso de desenvolvimento econômico...

No dia 4 de outubro, o Programa Mãe Coruja Pernambucana foi lançado no Sertão do Araripe, uma região do nosso estado marcada por dificuldades. Uma realidade onde muitas mulheres e crianças ainda morrem. O sentimento muitas vezes é banal, mas as pessoas estão consumindo mais e mais, contraditoriamente, e tendo acesso as benesses da tecnologia.Talvez ainda seja pouco o tempo .


Estou lendo um livro de Leonardo Boff que se chama “Saber cuidar”, onde o autor aborda de maneira brilhante este sentimento que é inerente ao ser humano, o cuidado. Confesso que estou a cada dia, mais e mais, alimentando este sentimento com os meus familiares, amigos, com a Mãe Terra e vislumbrando todos resgatando esta dádiva.

Caminhada - Fizemos em um ano uma linda caminhada nesta região: espalhando esperança, estimulando, alimentando sonhos, enfatizando a palavra “cuidado”. Encontramo-nos com médicos, enfermeiros, dentistas, auxiliares nestas áreas, agentes de saúde, organizações as mais diversas. Percebi que todos buscam pelo desejo de participar destes encontros, uns mais, outros menos, e alimentar esta virtude que é o cuidado.

Quando digo uns mais outros menos, recorro a “ânsia do consumir”. Esta busca desenfreada pelos bens de consumo provoca competições, aguça vaidades, estimula a ganância, destrói convivências, exaure os recursos da Mãe Terra, de onde viemos e pra onde voltaremos. Não estou aqui falando de bens de consumo básicos necessários ao bem viver.

Cuidado, segundo Boff, significa desvelo, solicitude, diligência, zelo, atenção, bom trato.

Trabalhamos durante este período, no Mãe Coruja, nesta linha do cuidado. É inerente a cada um de nós o cuidado, porém existem inimigos que nos afastam a cada dia, nos remetendo a um des-cuido.Temos que enxergar de maneira clara o verdadeiro inimigo para não estarmos construindo algo sem consistência duradoura: sem alma, sem amor, sem sentimento. Que inimigo então nos rodeia?

No livro de Ivis Pedrazzini “Violência das cidades”, ele coloca que a economia globalizada neoliberal é o grande inimigo. Destrói as convivências,coloca cada vez mais os pobres em guetos sem os serviços mínimos necessários à sobrevivência em favor das grandes construtoras e de um plano diretor urbano para os que podem, alimenta a indústria do medo, estimulando a violência urbana em favor do consumo de produtos e serviços de segurança particular, alimenta a saúde privada em detrimento a um sistema de saúde pública e por aí vai...

Faço questão de detalhar o que parece sem importância em um processo que exige estar claro pra onde queremos ir. Mudanças de comportamento, quebrar paradigmas esses tem sido o objetivo de nossa caminhada no Programa Mãe Coruja Pernambucana durante um ano.

O Mãe Coruja, como expressou Luiz Matias, ACS de Sertãnia, é "essa coisa tão linda".

É mesmo lindo. Desde o momento de sua concepção, as pessoas estavam iluminadas. O café da manhã no Palácio a convite do governador e primeira dama, com prefeitos e suas primeiras- damas, no sentido de sensibilizá-los e envolvê-los no Programa. O dia do lançamento era uma grande festa da vida. Os momentos de encontros em todos os municípios. A preocupação com o processo de seleção dos profissionais que estão nos Cantos Mãe Coruja. O planejar as suas capacitações, cadastrar as lindas gestantes, segurar a mão com cuidado, conduzindo-as para o que é seu direito: saúde, educação, trabalho, dignidade, assim como seus rebentos.

Estamos no momento de estruturação do Programa, onde gestantes estão cadastradas, uma rede de serviços e cuidados está sendo colocada à disposição destas mulheres e suas famílias. Elas vão deixando para trás as suas "Vidas Marias" para se tornarem "Marias livres", construindo caminhos novos. E com elas e com o Mãe Coruja Pernambucana vou caminhando livre e aprendendo cada vez mais a cuidar.

Dedico a todos e a todos que estão construindo esta linda Jornada

Iramaraí é marceneiro, agora pedreiro, escultor e sonhador.

4 comentários:

  1. como podemos fazer p entrar nesse sistema de informação? podemos através dele sabe informações do andamento do mãe coruja?

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  2. Carla,
    Respondendo à sua pergunta: o sistema de informação está sendo desenvolvido para acompanharmos as mulheres e crianças cadastradas no Programa através da informação das atividades previstas (acompanhamento pré-natal e de puericultura, segurança alimentar e nutricional, documentação, participação em cursos e outras atividades).
    Ainda está em período de testes e estará disponível para os profissionais dos Cantos Mãe Coruja e da Coordenação do Programa após capacitação dos mesmos quanto ao seu funcionamento.
    No futuro, com o sistema já adequado, disponibilizaremos informações para todos.
    Esperamos ter ajudado e colocamo-nos à disposição para outros esclarecimentos.
    Atenciosamente,
    Alessandra Fam, Equipe Mãe Coruja.

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  3. Bili, um grande, grande abraço pra você, meu amigo!!!

    Martin

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